CRIANÇAS PERDIDAS



Pedro nuca se esquivou dos seus pecados e achava que se redimiria quando chegasse a hora. Mas nunca imaginaria que sua expiação seria ainda em vida.


        Eram duas em ponto quando ele olhou para o relógio.  E o sol ainda ardia um verão apesar de ser outono. Pedro Luis, dentro do seu Gol branco, perguntava-se ainda como aquilo lhe havia acontecido. "Não sou o único policial que teve problemas", não parava de pensar, mas não tinha escolha. E havia encontrado sua primeira criança bem onde aquela senhora tinha lhe falado: "Sua mãe o chama de Marcinho. Ele sempre gostou de ficar em um parquinho no bairro onde morava", dissera. Ao sair do carro, indo em direção ao menino, ainda não sabia o que dizer exatamente. Temia, na verdade, que o assustasse.  Negro escuro, com um metro e noventa de altura e corpulento, dependendo de onde entrava, e se estava com a farda, silenciava o lugar. 

- Oi, garoto, tudo bem? - chegara ele sem jeito. Marcio lembrava ele quando criança. Também de pele escura e mirrado, havia garotos que caçoavam dele. E ele não esquecia. - Está sozinho aqui? - Márcio não tnha respondido de primeira, mas não parecia assustado. Era como se ele não soubesse o porquê de estar ali.

- Ninguém quer brincar comigo... Nem minha mãe me quer mais, lamentou ele.

"E o que eu digo pra eles", era Pedro se queixando para a estranha senhora. Tinha a pele negra mais clara que a dele e os cabelos brancos como as nuvens. As rugas no rosto e nas mãos transmitiam não apenas sabedoria, mas uma autoridade que, por mais que quisesse, Pedro não conseguia se opor. "Diga-lhes apenas que há um lugar pra eles. E que pessoas que os amam estão esperando. Mas diga isso de coração", declarara ela. "Mas como farei isso!", tentava ele achar um jeito e, de repente, lembrou-se de como sua mãe lhe falava. 

- Marcinho, veja, sua mãe gosta de você sim, mas por enquanto você vai ter que esperar por ela em outro lugar...

- Mas por que... eu quero ficar com a minha mãe, dizia Márcio entre lágrimas. Pedro conseguia não se abalar.

- Marcinho, esse lugar... é como uma nova escola. Você vai aprender coisas novas, lá tem muitas crianças pra você brincar! E quando você perceber, sua mãe estará lhe esperando pra levá-lo pra casa!

- E onde é essa escola? - perguntou Márcio. Mesmo com os olhos marejados deixou transparecer aquela típica curiosidade infantil.

- É aqui perto! Eu mesmo te levo! - dissera Pedro com um sorriso no rosto. Um sorriso para tranquilizar Márcio e também de satisfação. Mas ao entrar com o menino no carro sabia que estava apenas no início. Havia ainda mais duas crianças para encontrar e aquela senhora fez questão de frisar que o tempo era curto.

"Não se esqueça que você só tem até a meia-noite para achá-las", tinha dito. "Por que só até a meia-noite?", exasperou-se Pedro; "E... eu tenho que trabalhar também!". "Não, você não precisa trabalhar, Pedro, você está suspenso. Ou se esqueceu?". Não, ele não tinha se esquecido e se calou. Sentiu-se levando uma bronca da sua mãe ou de uma das suas avós. Todas já falecidas.

Cerca de trinta minutos depois, havia chegado a um hospital. Era grande e um dos mais conhecidos daquela região da cidade; ele mesmo já fora várias vezes ali por diversas ocorrências. "A Alessandra ficou perdida, tadinha. Ela não consegue achar a saída", tinha explicado a senhora. Pedro não queria perder tempo. 

- Marcinho, você me espera aqui, certo! Não sai do carro! - ordenou ele mais como força do hábito.

- Mas não vamos pra nova escola? - perguntou com certo ar de choro. 

- Vamos sim! Mas preciso pegar seus... novos coleguinhas. Não vou demorar, disse e foi logo em direção a entrada do hospital. Como já conhecia boa parte do prédio, seguiu logo para o pronto-socorro. Havia muita gente ali, mas poucas crianças. Achar uma menina negra de oito anos, de cabelos trançados e com um vestido todo azul salpicado de pequenas margaridas, não seria tão díficil pensara. Contudo, a senhora tinha lhe dito que Alessandra estava ali a quase três semanas. Ela poderia estar em qualquer lugar. E de fato, ali, ela não estava. Resolveu seguir então para o setor da pediatria. Onde havia mais crianças e até uma brinquedoteca; porém não a encontrou. Pensou que uma criança sozinha e assustada também sentiria fome. Mas ela não estava  na única lanchonete do hospital e nem mesmo no refeitório dos funcionários. O tempo estava passando e ele estava ficando sem ideias. Sentou-se em um dos corredores para pensar em algum plano quando um senhor que fazia a faxina ali o cumprimentou:

- Bom tarde, meu jovem!

- Bom tarde, respondeu ainda preocupado. Aquele senhor pareceu ter percebido.

- Esperando alguém? A mãe ou o irmão tá internado aqui?

- Não, não mesmo, eu estou... - ficou na dúvida se falava para um estranho o que fazia ali. Podia se mal-entendido. Por fim: - Estou procurando... uma garotinha. Ela se perdeu da mãe.

- Oh, tadinha, um lugar assim assusta até os adultos, imagine você uma criança sozinha, disse o senhor.

- Assusta mesmo! Acho que já rodei tudo isso aqui e não consegui encontrá-la, lamentava Pedro. - Talvez eu deva... sei lá...

- Não, não desista, meu filho, interrompeu ele pousando sua mão direita em seu ombro. Era como se sentisse sua agonia. - Se você está aqui, é porque essa menina precisa de você. Ela está sozinha, mas Deus olha por ela assim como olha por todos nós - terminou ele e iniciou seu retorno ao trabalho. - Bom, tenho que voltar para os meus afazeres, mas lembre-se, meu filho, Deus está olhando por todos nós, e se retirou levando  seu rodo e seu balde.

Pedro ficou ali, fitando aquele senhor e pensando no que ele dissera por ainda mais dois minutos. Então levantou-se, de sopetão, e apressou os passos em direção ao único lugar que ainda não tinha ido. Mais dois minutos depois e chegara a capelinha do hospital. Simples, com pouca iluminação, algumas poucas cadeiras e apenas um altar com o Cristo na cruz e mais alguns santos, notou que bem na primeira fileira tinha uma menininha sentada ali. Ele aproximou-se devagar, viu que pela aparência era Alessandra, quieta como uma pintura. Sentou ao seu lado e lhe falou:

- Alessandra, oi, meu nome é Pedro, disse um tanto ofegante ainda.

- É você que veio me buscar? - a pergunta o surpreendeu.

- Hã, sim... Mas como você sabe?

- Foi a mamãe que me falou. A gente ficou doente junto, então ela falou que não poderia me levar pra casa, mas que vinha alguém que me levaria até ela ficar boa. É você né? - indagou a Pedro, fitando-o com seus dois grandes olhos castanhos. Ele ficara encantado com a inteligência dela.

- Sou sim, Alessandra. Mas não se preocupe, vou te levar para o melhor lugar do mundo!

- Mas eu não vou pra minha casa? Não posso esperar minha mamãe lá?

- Infelizmente não, pequena... Olhe, você vai pra este lugar e quando menos você esperar, sua mamãe estará lá para levá-la pra uma nova casa. 

Ela assentiu levemente com a cabeça e levantou-se. Pedro também se pôs em pé e lhe ofereceu sua mão direita. Saíram de mãos dadas do hospital, mas não antes de Pedro ver, circulando pelo estacionamento, aquele senhor faxineiro que o auxiliara. Ele acenou um agradecimento com a cabeça e o senhor retribuiu. Logo chegaram no carro e Alessandra foi apresentada a Márcio.

- Marcinho, essa é a Alessandra, ela vai com a gente, e assim que ela se acomodou, Pedro dera partida para mais uma parada. 

- Cê também vai pra nova escola? - Márcio perguntara curioso. Alessandra arregalhou os olhos surpresa.

- A gente vai pra uma escola, Pedro? - perguntou ela e ele riu. E notara que era a primeira vez que soltara uma risada naquele estranho dia. Tão espontâneo como não fazia a muito tempo. 

- Sim, crianças! É um novo lar com uma nova escola! - respondeu ainda rindo e os dois o acompanharam e até festejaram. 

Pedro, contudo, pausou o riso quando lembrou que tinha até a meia-noite para achar a última criança. E teve a sensação que este não seria tão fácil. E por vários motivos.

"Com o Leandro pode ser que você tenha que se esforçar mais", dissera a senhora. "Ele é o mais velho dos irmãos; e não saiu de perto deles e de seus pais", completara. Isso significava que ele ainda estava dentro do apartamento do conjunto habitacional onde morava com a família. "E como vou fazer pra entrar lá e levá-lo comigo? E se me reconhecerem?" perguntara impaciente. "Você saberá o que fazer na hora certa, Pedro", ela apaziguou seus ânimos. "Mas não se esqueça: eles tem que estar juntos até a meia-noite."

E pouco mais uma hora depois lá estava ele, de frente àquele conjunto de pequenos prédios. Sempre que rodava por ali, lembrava da infância quando brincava com seus blocos de montar. E sendo aquele um dos bairros mais periféricos da cidade, fizera várias rondas e várias ocorrências. Em uma delas quase aconteceu o pior. Pedro não queria se lembrar daquilo. Muito menos naquele momento. Já estava parado fazia dez minutos e ainda não sabia como sair do carro. Colocou o boné e seus óculos escuros, mesmo já sendo noite, porém, aquele visual era muito parecido quando usava seu uniforme. Resolveu tirá-los. Seria reconhecido de uma maneira ou outra.

- Crianças, fiquem aqui, eu já volto, decidira já abrindo a porta do carro.

- Mas quando vamos pra nova escola? - quis saber Márcio.

- Logo depois que eu trazer mais um colega pra vocês! - respondeu.

- Quer ajuda, Pedro? - Ele ficou mais uma vez surpreso com Alessandra. 

- Pode deixar, minha querida, eu resolvo isso! - e deixo-os com um sorriso. 

A noite era fria naqueles dias e por isso não dispensou sua jaqueta de couro preta. Respirou mais tranquilo quando notou que as ruas estavam mais desertas o que facilitaria sua missão. A senhora havia dito que Leandro morava no terceiro prédio logo depois da entrada; sem portaria, Pedro entrou facilmente e seguiu para lá. Subiu os dois lances de escada para chegar no apartamento de número onze. E bem em frente a porta ainda não sabia o que dizer ou o que fazer. Então veio uma ordem. Exatamente do seu lado esquerdo. Era uma voz grossa e firme, contudo, com um ar jovial:

- Não! Vai embora! - determinou Leandro. 

Quando se virara, Pedro viu um rapazote alto e magro. A pele negra não tão retinta quanto a dele. Não se intimidou com Pedro e o empurrou com seu braço direito. 

- Eu sei que você é meganha! Sai fora! - esbravejou.

Pedro se conteve. Seu instinto, por força do ofício, era de conter o agressor. Mas tinha em mente que aquela situação precisaria de outra abordagem.

- Leandro, calma, eu vim apenas conversar, disse ele levantando as mãos como uma rendição.

- Calma! Calma o caralho! Olha isso aqui! Olha o que cês fizeram comigo! Cê ficaria calmo! - gritou Leandro. Ele havia levantado sua camiseta. E Pedro pode ver as cinco perfurações que Leandro tinha no peito. Ele não participara do que ocorrera com o menino, no entanto, havia chegado muito perto de cometer a mesma brutalidade. Era para ser uma diligência corriqueira. No rádio disseram que uma moto havia sido roubada e que o ladrão ainda estava nas redondezas. Ele e o parceiro logo ligaram a sirene da viatura e cerca de trinta minutos depois visualizaram uma moto com um motoqueiro que aparentemente correspondia a descrição dada. Eles aceleraram para alcançá-lo. Uma segunda viatura apareceu; encurralou o suposto criminoso fazendo com que ele caísse, com moto e tudo, calçada adentro. Um dos PMs que saíra da outra viatura disparou contra ele, mesmo caído. "Não, espera!", gritara Pedro que vinha com seu parceiro. "Não é esse, detiveram agora mesmo o que roubou a moto!", completou. Em um momento todos ficaram atônitos enquanto aquele rapaz, de apenas dezoito anos, e que mal tinha terminado de pagar pelo seu primeiro ben, agonizava no chão. "Vamos ter que terminar com esse aí", dissera o policial que havia disparado. Eles entreolharam-se e concordaram silenciosamente. Menos Pedro Luís. Ali seria a terceira vez que participara  de um ato desse tipo. E soubera de outros. Como uma troca de tiros desastrosa em um bairro pobre vitimara dois meninos. Um deles era Márcio. Ou quando três policiais resolveram se vingar de um companheiro morto por bandidos invadindo uma casa que festejava o aniversário de oito anos de Alessandra. Ela, a mãe, e dois tios foram baleados. Soube-se depois que invadiram a casa errada. Alessandra foi a única que faleceu. Pedro, de pé, em frente àquele rapaz que ainda murmurava socorro, pensara em tudo aquilo e, de súbito, lembrou-se do seu irmão mais velho, Marcelo. Morrera em um assalto e, segundo os policiais, os criminosos conseguiram fugir. Então olhou para os seus colegas de farda que aguardavam sua anuência e decidira: "Ele está vivo ainda, vamos levá-lo para um hospital!". Seu próprio parceiro se aproximara dele: "Pedrão, acho que cê não tá entendendo... O fato que ele ainda tão vivo é que vai fuder pra gente! Cê tá doido?". Os outros também se manifestaram, porém, ele estava irredutível: "Sei que pode molhar pra gente, mas ele tá vivo! Vamos dizer que outro tava tentando roubar a moto dele, viu a gente, atiramos, e um acertou o garoto... Só dessa vez a gente podia fazer o certo... E aí?". Os três olharam-se de novo e, para alívio de Pedro, mudaram seus planos. O rapaz sobreviveu. No entanto, foi por intermédio da própria corregedoria da Polícia Militar que Pedro ficara sabendo que o tiro que acertou o motoqueiro havia saído do seu trinta e oito. Fora traído, mas com tudo que havia se passado e refletido, não se sentia tão surpreendido. Sentia-se perdido. Não sabia se queria ou se devia voltar para a PM. Num dia estava sentado em uma praça, avaliando-se, quando uma senhora negra e de estatura baixa, com fios alvejados na cabeça e linhas tortas no rosto, sentou-se ao seu lado e lhe cumprimentou um bom dia. 

Agora ali, com Leandro vociferando na sua frente, via-se naquela mesma situação novamente. E depois de tudo que havia se passado como policial e o que fez naquele estranho dia, percebera qual era o seu verdadeiro objetivo. 

- Leandro, Leandro, sei que é difícil ser... morto dessa forma...

- Como é que cê sabe! Cê não sabe porra nenhuma! Cê faz a mesma coisa que eles! Me confundiram com aquele traficante só porque eu também sou preto! Cê é preto! Cê não devia fazer isso!

- Eu sei, você tá certo... Eu não posso mudar... o que aconteceu, mas posso tentar corrigir os meus erros... Fazer alguma justiça! É isso que vim fazer aqui, por você e por aquelas crianças lá comigo.

- Ah é, e os meus pais e meus irmãos... cê vai fazer justiça pra eles também?

- Leandro, eu prometo que farei tudo ao meu alcance para ajudá-los! Eu estarei aqui e...

- E cê acha que vou embora? Eles precisam de mim! É você que tem que sair fora!

- Leandro, se você ficar, vai se transformar em algo que você não vai querer... Você precisa ir para dar paz aos seus pais e para você também.

Ao ouvir isso, Leandro desatou a chorar. No fundo sabia que Pedro tinha razão. Mas era dele insistir até o último minuto.

- Mas eles precisam de mim... Não posso ir...

Pedro envolveu seu braço direito sobre Leandro e suavemente o escoltou para fora do prédio. 

- Eu os verei sempre que puder, e os ajudarei no que for preciso, eles e os outros também, dissera sem perceber o pensamento que lhe ocorrera. Pela primeira vez em um bom tempo, não se sentia mais perdido. Consolara Leandro até chegarem no carro; e apresentou-o aos dois pequenos: - Criançãs, este é Leandro. Leandro, aquela é a Alessandra e aquele Márcio!

- Oi, cumprimentou Alessandra.

- Oi, repetiu Márcio.

- Oi, correspondeu ele. Parecia mais conformado.

Pedro dera a partida e seguiram. Tinha que chegar até uma praça a alguns quilômetros dali onde estavam. Mas o tempo sobrava ainda. 

- Nós vamos pra nova escola agora? - perguntara Márcio para a risada descontraída de Pedro.

- Sim, nós vamos! - respondeu. As crianças gritaram um "êêê...". Leandro o encarou sem entender. Pedro apenas piscou e ele soltou um leve sorriso. 

Pouco menos de trinta minutos depois tinham chegado no local de encontro. Aquela senhora já os estava esperando perto de uma van toda branca. Quando desceram do carro, as crianças foram as primeiras a correr. 

- É a senhora que vai levar a gente pra nova casa e pra nova escola? - perguntou Alessandra. 

- Sou sim, meus amores, podem entrar, e mal dissera, os dois já estavam lá dentro, pulando de alegria. Leandro, ao lado de Pedro, ainda relutava. Contudo, sabia que tinha que ir. 

- Mas e meus pais e meus irmãos?

- Pra mim promessa é dívida, Leandro! Vou cuidar deles como se fossem da minha família! - declarara e Leandro, enfim, seguiu seu destino. 

- Pode entrar, meu filho, você está entre amigos, disse a senhora. Após o garoto entrar, ela foi ter com Pedro.

- Eu sabia que você conseguiria. Nunca duvidei, apesar de você duvidar de si mesmo. Quer me perguntar alguma coisa? - indagou-o e as lágrimas lhe desceram. Havia um bom tempo que ele não chorava assim, porém, não se importou.

- Por que me escolheu afinal? Nunca me disse exatamente por quê, reclamou. Parecia que quanto mais tentava secar seu pranto, mais se derramava. 

- Você tentou salvá-lo, lembra. Ás vezes, um pequeno gesto traz grandes mudanças. O que você achou? - respondera de bate-pronto e ele apenas balançou a cabeça. Respirou fundo, conseguira secar seu choro e apontara seus olhos para o céu. Parecia que via o mundo pela primeira vez. 

- Existem muitas dessas... crianças perdidas por aí? - perguntou. 

- Sim, Pedro. Infelizmente existe sim, respondeu ela.

- E onde eles estão?

Comentários

  1. É principalmente o meu tributo a todas as crianças e jovens que tiveram suas vidas tiradas por balas que tem sim donos.

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