A Turma do Fundão


Sabe, vez ou outra, me pego perguntando o que eu gostava e o que eu não gostava na escola. Gostava dos colegas, das brincadeiras, de alguns professores, claro, e de uma ou outra matéria. Não gostava de história. Um pouco por minha causa acho... Para mim era difícil entender, digerir, destrinchar as intrínsecas complexidades das revoluções humanas. 




Um pouco pelos professores e professoras que tive, bem intencionados sim, porém, despejavam na lousa linhas e linhas de conteúdo dando uma geral sobre o que aconteceu na época e nos forçando a decorar aquilo tudo para as provas.

Então o ginásio – hoje ensino fundamental – passou e veio o colegial – hoje ensino médio – e... nada! Não odiava, apenas não gostava de história. Foi só quando comecei a fazer um cursinho pré-vestibular que comecei a gostar e, principalmente, entender história. Veja bem, foi um destes cursinhos comunitários, mas os professores eram ótimos; conseguiam realmente, tornar o que passou, vívido na nossa mente – para mim pelo menos. Talvez fosse melhor não entender mesmo. À medida que estudamos, começamos a descobrir certas coisas que nos deixam indignados. Por exemplo, o porquê do Brasil nunca ter investido seriamente em educação. Foram décadas e décadas de sistemas falidos já na concepção, má vontade política e negligência, principalmente, para com a classe baixa.
Ora, sempre ouvimos nos discursos dos nossos presidenciáveis e depois empossados que o Brasil precisa e vai se desenvolver social e economicamente. Mas não vejo mesmo como isso poderá ser possível se não houver um investimento maciço na nossa instituição educacional – que é como deve ser tratada.

Vamos lá: em países ditos do primeiro mundo, em média 10% do PIB é investido em educação. Isso mesmo, a educação é um investimento e não gasto como parece que é visto por aqui. Os EUA e a Dinamarca aplicam – diz um estudo da OCDE – pelo menos 7% do seu produto interno bruto na educação; países como França e Japão concentram 10% dos seus gastos públicos nas escolas; e o México, país bem similar ao nosso, tem a honra de colocar 22% do que arrecada para educar seus filhos. Legal né? E aqui? Será que com os tímidos 4,4% do PIB temos condições de educar nossas crianças a contento? Será que o governo e a sociedade em geral veem nossas crianças como... nossas crianças? Parece-me que não.

Li uma entrevista do Cristovam Buarque, que já fora ministro da educação no governo Lula, dizendo que a educação para ter efetividade no Brasil, teria que incluir os excluídos, ou seja, os pobres e negros na maioria. Então damos uma olhada lá atrás e descobrimos que o governo e a elite nunca tiveram interesse em ensinar negros e pobres a ler e escrever. Por puro preconceito sim – vamos ser adultos aqui! Depois vêm alguns políticos e personalidades se dizendo contra as cotas em universidades – sou a favor das cotas, mas isso é um assunto para uma outra hora. O Brasil tem que acordar e tem que ser já! E quando digo o Brasil, falo de nós mesmos em querer também nos educar. Com o mundo cada vez mais informatizado, corremos o risco de ficar na rabeira de muitos países, incluindo nossos vizinhos. Cada um tem que fazer sua parte: pais e mães exijam do governo uma fatia maior do bolo para melhorar o material físico e humano nas escolas; exijam também que seus filhos estudem mais e melhor, pois só assim poderão reverter esse endêmico quadro de miséria; alunos, exijam de si mesmos mais esforço em sua própria educação e, claro, dos professores, auxílio nesta tarefa que não é fácil, mas é preciso; professores, exijam também de seus alunos e de seus pais real vontade em aprender, valorizem-se sim, é merecido e, principalmente, exijam valorização da sociedade e do governo para esta classe que, para muitos, parece que nos está prestando um favor. Por que do jeito que está, não vai haver PAC, Bolsa-Família ou Copa do Mundo que resolva.

E que todo esse esforço comece lá pela educação básica. Sim por que é lá que tudo começa. As universidades, principalmente as públicas, como USP, UNESP E UNICAMP, não precisam deste auxílio monstro que o governo dá todo ano. Nas públicas, vejam só, têm alunos que poderiam muito bem pagar uma mensalidade. E dizem que não há elitização! Vejo jovens de 16, 17 anos indo a uma seleção de emprego mal conseguindo preencher o próprio nome na ficha de apresentação. Apesar de termos arrecadado um PIB de 7,5% ficando atrás apenas de China e Índia com 10,3% e 8,6% respectivamente (dados de 2010 do Senado Federal), o abismo econômico e, consequentemente, educacional entre os pobres e os ricos ainda é grande.

Sem solução imediata, mandamos nossos filhos e filhas para escolas caindo aos pedaços, com professores mal pagos e mal preparados, com alunos que, ao invés de levarem livros, cadernos, lápis, têm levado armas e drogas. A escola é o espelho da sociedade e vice-versa; e confesso que está sendo difícil encarar nosso reflexo ultimamente. Será que nossos governantes se sentem assim? Até quando vão permitir que esta situação enfadonha se perpetue? E até quando nós vamos nos contentar em sermos a turma do fundão do planeta? Eu quero mais educação. E você? 

Comentários

  1. Escrevi esse texto há algum tempo, mas depois que vi uma matéria exibida no Fantástico - com o mesmo tema - achei-o relevante ainda.

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