Ciclistas Frustrados

Não sei andar de bicicleta. Pronto falei.Preferi expor logo de cara uma das minhas muitas vergonhas tal qual se retira um band-aid. E olha que tive oportunidade.


arte por Mike Joos


Lembro-me de ter ganhado uma – usada, mas isso era o de menos – todavia, ninguém me ensinou. Era o tipo de coisa que eu tinha que aprender sozinho. Meus irmãos aprenderam assim e acho que meus primos também, mas eu não. Eu era daquelas crianças que tinha que pegar na mão para ensinar alguma coisa. Como ninguém me pegou pela mão, não aprendi e só fiquei olhando os outros pedalarem.

E nunca entendi realmente o que eles sentiam. Lá eles iam: irmãos, primos, colegas de escola, pra lá e pra cá; e era: “tenho que recalibrar o pneu...”, “minha correia tá gasta...”, “aquela é da hora, tem trocentas marchas!” e por aí. Não que faça falta, mas...

Deve ser dessa mesma forma que as autoridades em geral se sentem em relação às bicicletas nas ruas.
Eles devem ficar olhando e olhando sem entender o que é e o que fazer com esses tais ciclistas-ativistas.

O que era apenas um instrumento de lazer no passado, hoje, além disso, é uma alternativa de transporte saudável e barato para desafogar o trânsito e diminuir a poluição. No entanto, existem pessoas – devem ser ciclistas frustrados como eu – que não querem ceder espaço para essa gente diferenciada. Alguns argumentos mostram isso: o Brasil acabou de descobrir um enorme poço de petróleo e, se não for usado como gasolina, vai ser usado para quê? As políticas públicas para o setor são sempre pautadas na velocidade da indústria automobilística e quase não sobra espaço para o pedestre.

A questão é que: com o aumento da poluição e com um transporte coletivo ineficiente, a bicicleta tornou-se uma das melhores, se não a melhor, solução para um transporte mais limpo.
Existem combustíveis alternativos – como o etanol – existem. Mas alguns ainda estão em teste e carecem de investimentos o que demanda tempo; lá fora, americanos, japoneses e europeus já desfilam seus carros elétricos – quando isso chega por aqui?

Não adianta. Governantes vão ter que arrumar um espaço para as magrelas. Faz bem, é barato e bem mais rápido construir ciclovias do que rodovias. E todos, motoristas e pedestres, vão ter que aprender a dividí-lo. Fará bem para a saúde e a economia de todo mundo. E deixo uma promessa: se precisar, aprendo a pedalar para engrossar o coro.  

Comentários

  1. A revista Trip 201 tratou do tema bicicleta como um instrumento de mudança em todos os aspectos da nossa sociedade e resolvi escrever um texto como um apoio moral. Gosto bastante da Trip caso tenham perguntado o porquê.

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